Um mundo vigiado por câmeras e telas, controlado por uma instituição, algo supremo que dita quando eu devo acordar, dormir, o que eu devo usar ou comer. Parece ficção cientifica, coisa impossível de acontecer. Será?
Hoje, existem milhões de programas de televisão que buscam mostrar a vida como ela é, mas será que a vida é, ou deve ser assim?
No livro 1984 de Orwell, a vida é comandada pelo Grande Irmão, que tudo vê e tudo sabe, é impossível escapar dele. Winston Smith tentou, para ele não era mais possível viver questionando os mandos do Partido, numa posição delicada, ele tinha acesso à informação pura e deveria alterá-la, para que chegasse embrulhadinha para a população. Mas se questionasse explicitamente poderia ser condenado por cometer crimideia, algo como pensar algo que não deveria, e ser vaporizado, todos deixariam de saber de sua existência.
Como então Winston deveria extravasar essa angústia, se qualquer atividade suspeita poderia ser denunciada à Polícia do Pensamento? Ele consegue papel e lápis, elementos proibidos em 1984, assim ele consegue se expressar, mesmo vagamente em pequenas frases.
Winston ainda se lembra de como era a vida antes da Terceira Guerra, mas muitos só se lembram de banalidades, esse acontecimento é fruto do controle maciço do Partido e do Grande Irmão que controlam o que é verdade e o que é mentira na Oceania.
Até o trabalho de Winston era transformar a realidade. No Miniver (Ministério da Verdade), ele modificava dados e jogava os originais no incinerador (Buraco da Memória) de tudo que pudesse negar as verdades do Partido.
Winston acaba se envolvendo com Júlia, uma outra trabalhadora do Ministério da verdade, portanto o seu relacionamento deve ficar escondido, para ela ele revela todas as suas ideias e aflições. Num encontro de partido, Winston conhece O'Brien, um membro do Partido Interno, que percebe também que Winston era diferente dos outros, e o convida para ir ao seu apartamento ver a nova edição do dicionário de novilíngua. O convite de O'Brien era incomum e fez Winston se animar com a possibilidade de uma revolta. No apartamento, O'Brien desliga a teletela e Winston se sente a vontade para contar as suas ideias revolucionárias. Mas logo depois disso, Winston é preso e torturado por O’Brien, que durante o processo explica porque o controle é importante.
Winston, libertado, depois de acusar Júlia, termina seus dias tomando Gim Vitória e jogando sozinho xadrez no Castanheira Café. Ao fundo, seu rosto aparece na teletela confessando vários crimes. Ele foi solto e teve sua posição rebaixada para um trabalho ordinário num sub-comitê.
Júlia escapa também do Quarto 101. O Partido os separou e os dois só voltaram a se encotrar ocasionalmente. Já não eram mais as mesmas pessoas. Tinham "crescido" e se traído. Wisnton, no Café Castanheira, sorri. Está completamente adaptado ao mundo. Finalmente ele ama o Grande Irmão.
Já no filme O Show de Truman: o show da vida, o protagonista é Truman Burbank, que vende seguros e vive desde o nascimento em reality show, sendo acompanhado por milhões de pessoas que não se preocupam com o que o rapaz pensa ou sente, seria como se aquilo fosse uma telenovela que dura mais de trinta anos, encenada completamente por atores.
Truman vive num mundo controlado, tudo o que acontece, o que vai ser consumido, se chove ou faz sol, até explicações sobre um holofote quebrado, é controlado. Não importa como o nosso protagonista se sente, ele faz parte de um modelo que deve ser seguido.
Quem não concorda com o sistema deve ser expulso do programa, foi o que aconteceu com Sylvia, que tenta avisar Truman do show que ele está protagonizando. Sylvia passa a ser o desejo do rapaz que fantasia um dia poder sair da cidade cenográfica para encontrá-la em Fiji. Esse desejo cresce de tal maneira que, mesmo contra a vontade do idealizador do programa, Cristhof, não há tempestade, enchente, alarme de ameaça terrorista que impeça Truman de conseguir escapar.
Da outra ponta, enquanto alguns poucos telespectadores comemoram a liberdade da personagem, a maioria perde o rumo, o que fazer agora que o show acabou? Assim como as personagens do livro de Orwell precisam da verdade vomitada pela teletelas para viver, os telespectadores de Truman também precisam do show para decidir sobre as suas vidas. Será que nós, pobres mortais de carne o osso, também perdemos o rumo e o sentido sem o Grande Irmão a nos guiar a vida?
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